sábado, 3 de maio de 2014

Dom Tomás Balduíno, o 'bispo da reforma agrária', morre aos 91 anos

O religioso, bispo emérito da Cidade de Goiás, participou da fundação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975, e era conhecido por sua defesa dos direitos dos sem-terra e dos povos indígenas


O bispo emérito da Cidade de Goiás (GO), dom Tomás Balduíno, morreu na noite desta sexta-feira (2), aos 91 anos. A morte foi divulgada neste sábado (3), terceiro dia da 52ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, pelo bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner, durante a missa dos bispos eméritos em Aparecida (SP). Balduíno - que pela sua luta em defesa dos direitos dos sem-terra e indígenas era conhecido como o "bispo da reforma agrária" - estava internado havia vários dias em tratamento por causa de complicações cardíacas e de um câncer. Ele ficou internado de 14 a 24 de abril no Hospital Anis Rassi, em Goiânia. Teve alta hospitalar no dia 24, mas foi novamente internado no dia seguinte, no Hospital Neurológico, também em Goiânia, onde permaneceu até ontem. O corpo é velado na Igreja São Judas Tadeu, na capital goiana, até as 10h de domingo, quando será celebrada uma missa. De lá, segue para a cidade de Goiás, onde será velado na Catedral até as 9h de segunda-feira (5). "Nem mesmo com a saúde debilitada e internado no hospital ele deixava de se preocupar com a questão da terra e pedia, em conversas, para saber o que estava acontecendo no mundo", informou em nota a CPT. "Ficamos, hoje, todos e todas um pouco órfãos, mas seguimos na certeza de quem Dom Tomás está e estará presente sempre, nos pés que marcham por esse país e nas bandeiras que tremulam por esse mundo em busca de uma sociedade mais justa e igualitária." Dom Tomás Balduíno nasceu na cidade de Posse, em Goiás, no dia 31 de dezembro de 1922. Seu nome de batismo era Paulo Balduino de Sousa Décio. Ao se tornar religioso, o dominicano recebeu o nome de frei Tomás. Em 1957, foi nomeado superior da missão dos dominicanos da Prelazia de Conceição do Araguaia (Pará), onde começou a conviver com a realidade de indígenas e camponeses. Na época, a Pastoral da Prelazia acompanhava sete grupos indígenas. Para desenvolver um trabalho mais eficaz com os índios, fez mestrado em antropologia e linguística na Universidade de Brasília, que concluiu em 1965. Estudou e aprendeu a língua dos índios xicrins, dos grupos Bacajá e Kayapó. Em 1965, foi nomeado prelado de Conceição do Araguaia. Na região atuou para impedir a invasão de áreas indígenas e a expulsão de pequenos camponeses por parte de grandes empresas agropecuárias. Foi nomeado bispo da cidade de Goiás em 1967, onde permaneceu durante 31 anos, até 1999. Ao completar 75 anos, renunciou e mudou-se para Goiânia. Seu ministério episcopal coincidiu, a maior parte do tempo, com a ditadura militar (1964-1985). Dom Tomás teve papel importante na criação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. Foi presidente do Cimi, de 1980 a 1984, e presidente da CPT, de 1999 a 2005.

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