sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Uma nova pesquisa mostra que Marina venceria no segundo turno


A segunda pesquisa de intenção de voto do instituto Datafolha, divulgada nesta sexta-feira, indica que as candidatas a ocupar o cargo de presidente do Brasil, Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB), estão tecnicamente empatadas com 34%, caso o primeiro turno das eleições fosse celebrado hoje. Dilma tinha 36% e Marina 21% no levantamento anterior, do dia 18 de agosto. A análise do cenário de um segundo turno indica uma vitória da substituta de Eduardo Campos com uma vantagem de 10%: Dilma ficaria com 40%, enquanto Marina teria 50% dos votos. A margem de erro é de dois pontos percentuais. MAIS INFORMAÇÕES Nova pesquisa do Ibope mostra que Marina venceria Rousseff no segundo turno De volta à disputa, Marina Silva pode chegar ao segundo turno com Dilma Sebastianismo brasileiro “A imagem simbólica da Marina é maior do que ela como candidata” EDITORIAL | As opções do Brasil Nesta semana, o mercado financeiro já indicava sua simpatia pela candidata do PSB: a Bolsa de Valores de São Paulo fechou na quarta-feira com o melhor resultado desde janeiro de 2013. O movimento de ascensão de Marina já se perfilava na anterior pesquisa do Datafolha, quando contava com 21% dos votos mesmo antes de ser confirmada oficialmente como candidata substituta. O tucano Aécio Neves (PSDB), que já estava empatado com Marina desde a última pesquisa (tinha 20%), ficaria em terceiro lugar, com 15% dos votos no primeiro turno. Os outros candidatos somariam todos 3%. Votos em branco e indecisos representam 7% cada um. A sondagem também abordou a aprovação ou não do Governo Dilma. Os eleitores contentes, que consideravam a gestão boa ou ótima, caíram: passaram de 38% na pesquisa anterior para 35%. Os que acreditam que os quatro anos de Dilma foram ruins ou péssimos passaram de 23% para 26%, de um total de 2.874 entrevistados em 178 municípios brasileiros. Em outro levantamento recente, do instituto Ibope, encomendado pelo jornal O Estado de S. Paulo e pela TV Globo e divulgado nesta quarta-feira (26), Marina também superaria Dilma no segundo turno, com 45% dos votos contra 36% da candidata petista.

Marina lança um programa liberal na economia e progressista no social

Marina Silva e o vice Beto Albuquerque no lançamento do programa. / PAULO WHITAKER (REUTERS)
Do lado direito de Marina Silva estava acomodada Neca Setubal, a herdeira do Itaú, um dos principais bancos do país. Do lado esquerdo, o presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Roberto Amaral, que bradou críticas ferrenhas ao capitalismo e defendeu a distribuição de renda. No centro, a candidata à presidência apresentou seu programa de Governo, liberal na economia e progressista nas áreas sociais, ainda que não em todas, já que a lei sobre o aborto não terá mudanças num eventual Governo dela. Na tarde de ontem, no salão de um luxuoso bufê de Pinheiros, em São Paulo, Silva defendeu abertamente uma menor intervenção estatal na economia. No livro de 242 páginas, com propostas divididas em seis eixos, está uma das mais criticadas pela esquerda atualmente: a autonomia do Banco Central, considerada pelo PT como uma política típica de partidos “neoliberais” como o PSDB de Aécio Neves, já que daria o controle do banco ao setor financeiro do país. Ela também defendeu a manutenção da taxa de cambio livre, sem a intervenção do Banco Central, salvo as “ocasionalmente necessárias”, “com vistas para sinalizar para o mercado que as políticas fiscais e monetárias serão instrumentos de controle de inflação de curto prazo”. O extenso documento elenca as “regras para o setor privado e para suas relações com o setor público: pôr fim às políticas discricionárias; reduzir as normas para os setores produtivos; fortalecer e dar independência às agências reguladoras; deixar a economia respirar”. Num partido de alcunha socialista, Marina se tornou uma candidata celebrada pelo mercado financeiro, que apoia suas políticas econômicas e acredita que ela é quem tem mais chances de derrubar Dilma Rousseff (PT). Uma pesquisa Datafolha publicada nesta sexta mostra que as duas estão numericamente empatadas no primeiro turno, com 34%; num segundo turno, Silva ganharia por dez pontos. Vista como a representante do mercado financeiro da campanha, Neca Setubal, apoiadora de Silva desde a campanha de 2010, fez questão de afastar o rótulo: diz que não teve participação na parte econômica do programa, que não tem relações com o mercado financeiro e que atuou por toda uma vida na área da educação, trabalhando, inclusive, para a Unicef na América Latina. “Não tenho nenhuma experiência na área econômica, nunca exerci nenhum cargo nessa área. Eu até entendo que vocês me olhem como se eu tivesse representando o mercado financeiro. Mas eu não conheço esse mercado, eu não frequento esse mundo nem socialmente, nem profissionalmente”, declarou. Setubal é uma das coordenadoras do programa de Governo, ao lado do ex-petista Maurício Rands, ex-secretário no Governo de Eduardo Campos, antecessor de Silva na disputa pela coligação, morto em um acidente de avião em 13 de agosto. Segundo eles, o programa foi construído com a ajuda de internautas, sindicatos, entidades da sociedade civil e teve mais de 6.000 contribuições. Se na área financeira o programa se aproxima das pautas tucanas, na área social o texto traz propostas bastante progressistas, alinhadas e até mais avançadas que as petistas. A candidata promete manter os programas do atual Governo federal, como o Bolsa Família, o ProUni, o Programa Saúde da Família, e também destinar 10% do PIB para a educação nos próximos quatro anos, ou seja, muito antes do previsto pelo Plano Nacional de Educação aprovado em 3 de junho. Também promete destinar 10% do PIB para a saúde pública. Além disso, toca em pontos delicados ao conservadorismo brasileiro. Entre eles, a reforma agrária, que vem perdendo espaço no atual Governo petista– em 2012, foram 23.075 famílias assentadas, muito abaixo do número registrado em 2006, de 136.358 famílias. O programa fala em realizar uma força tarefa para assentar as 85.000 famílias na fila atualmente. Além disso, também afirma que haverá investimento em modelos de políticas de Justiça restaurativa (em que o juiz atua como um “negociador” para mediar os conflitos ao invés de simplesmente punir) e em humanização do sistema penitenciário. Defende o casamento civil igualitário para a comunidade LGBT e a eliminação de obstáculos para a adoção de crianças por casais homoafetivos. “Queremos um país socialmente justo”, ressaltou Silva. A candidata também agradou o público presente ao criticar o fisiologismo partidário brasileiro. Chamada de “Poliana” na última disputa eleitoral, Silva disse acreditar ser possível governar sem alianças que resultam no loteamento dos cargos públicos e acreditar que todos os partidos irão ajudar a construir “um novo Brasil”. “As pessoas pensam que base de sustentação é aderir de forma acrítica. Nos países democráticos, mesmo quando se faz uma oposição, fazem isso pela análise do programa”. “Não acredito que o PSDB, que tem historicamente um compromisso com a estabilidade econômica, vai ser negligente com esses objetivos no Congresso só porque ganhamos o Governo. Dizemos de antemão que pretendemos, sim, conversar com o Lula e com o Fernando Henrique Cardoso. E pode ter certeza que vai ser mais fácil do que ficar refém do PMDB”, afirmou ela, que também destacou que, caso eleita, não tentará a reeleição. Candidata se diz contra o aborto e afirma que manterá a lei atual T.B Uma das principais questões de saúde pública do país, o aborto, feito por ao menos 850.000 mulheres em 2013, segundo estimativa, sendo a grande maioria de forma clandestina e em situação precária, não será alvo de mudanças no Governo de Marina Silva, caso ela seja eleita. Questionada pelo EL PAÍS na tarde de ontem, a candidata, uma evangélica que defende o Estado laico, disse que pretende manter a legislação como está: a interrupção da gravidez só é permitida em casos de estupro, de risco à saúde da mãe ou caso o feto seja anencéfalo. Nas eleições de 2010, Silva defendeu a realização de uma consulta popular sobre o tema, fato criticado pelas feministas porque em uma sociedade conservadora como a brasileira certamente uma legislação mais progressista sobre o assunto não seria aprovada pelo povo. “O que está previsto na lei é o que está na nossa política. A proposta de plebiscito eu apresentei em 2010, no Partido Verde, e estava em debate na Rede Sustentabilidade (o grupo político de Silva). Dentro da nossa aliança, decidiu-se pela manutenção da lei já existente. Qualquer mudança nesse sentido é uma atribuição do Congresso. Eu, particularmente, não sou favorável ao aborto”, disse ela, que acrescentou que trabalhará para a construção de políticas de prevenção à gravidez e orientação sexual. Silva também não se comprometeu com a legalização da maconha, tema que ela também afirmava em 2010 que deveria ser submetido a um plebiscito. Isso, no entanto, não está no atual programa. “Nos comprometemos com o debate.”

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Estiagem põe mais de um terço das cidades em situação de emergência

FOTOS CAATIGA REGIÃO AGUA PRETA ENCRUZILHADA - BAHIA


A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil reconheceu, ontem, a situação de emergência de 106 municípios da Bahia por conta da falta de chuva. Com isso, sobe para 145 o número de cidades que sofrem com a estiagem prolongada no estado, o que corresponde a mais de um terço dos 417 municípios.
O reconhecimento foi publicado no Diário Oficial da União e deve ajudar a agilizar o processo de aquisição de alguns benefícios, como ração para gado e carros-pipa, para amenizar os danos climáticos. Em Lajedinho, por exemplo, onde em dezembro passado as chuvas provocaram estragos e deixaram mais de 800 desabrigados ou desalojados, agora é a seca que preocupa.
Segundo o prefeito Antônio Mário Lima, dois dos quatro poços artesianos locais secaram e dois carros-pipa levam água para as áreas mais distantes. “São 4.800 habitantes, mas a população vive em uma área de 850 m². São necessárias mais de 200 viagens todos os meses para levar água a todos”, conta. Com o atestado, fica mais fácil conseguir recursos. “O reconhecimento ajuda na dispensa de algumas formalidades.
A prefeitura pode abrir mão, por exemplo, de licitação para contratar carro-pipa”, explica o superintendente de Proteção e Defesa Civil (Sudec), Salvador Brito. Segundo ele, o governo estadual tem ajudado na construção de cisternas, adutoras e poços artesianos, entre outros.
Nº Município
1 Abaíra
2 América Dourada
3 Anagé
4 Aracatu
5 Baixa Grande
6 Barra
7 Barra do Mendes
8 Barro Alto
9 Belo Campo
10 Boa Nova
11 Boa Vista do Tupim
12 Bom Jesus da Serra
13 Bonito
14 Brumado
15 Caculé
16 Cafarnaum
17 Canarana
18 Cândido Sales
19 Canudos
20 Capela do Alto Alegre
21 Capim Grosso
22 Caraíbas
23 Central
24 Conceição do Coité
25 Condeúba
26 Contendas do Sincorá
27 Cordeiros
28 Cravolândia
29 Dom Basílio
30 Encruzilha
da
31 Érico Cardoso
32 Feira de Santana
33 Gavião
34 Gentio do Ouro
35 Guajeru
36 Ibiassucê
37 Ibipeba
38 Ibipitanga
39 Ibiquera
40 Ibitiara
41 Ibititá
42 Ibotirama
43 Ichu
44 Igaporã
45 Irecê
46 Itaberaba
47 Itaeté
48 Itaguaçu da Bahia
49 Itiruçu
50 Itiúba
51 Ituaçu
52 Jacaraci
53 Jacobina
54 Jequié
55 João Dourado
56 Juazeiro
57 Jussara
58 Lafaiete Coutinho
59 Lagoa Real
60 Lajedinho
61 Lajedo do Tabocal
62 Lapão
63 Licínio de Almeida
64 Macajuba
65 Macaúbas
66 Macururé
67 Maetinga
68 Malhada de Pedras
69 Maracás
70 Marcionílio Souza
71 Mirangaba
72 Monte Santo
73 Morpará
74 Mortugaba
75 Mulungu do Morro
76 Nordestina
77 Nova Fátima
78 Oliveira dos Brejinhos
79 Palmas de Monte Alto
80 Paramirim
81 Paratinga
82 Pé de Serra
83 Piatã
84 Pindaí
85 Pintadas
86 Piripá
87 Planalto
88 Presidente Jânio Quadros
89 Quijingue
90 Remanso
91 Riachão do Jacuípe
92 Rio de Contas
93 Rio do Pires
94 Ruy Barbosa
95 Santa Inês
96 São Gabriel
97 Seabra
98 Sebastião Laranjeiras
99 Senhor do Bonfim
100 Sobradinho
101 Tanhaçu
102 Tanque Novo
103 Tremedal
104 Uauá
105 Várzea da Roça
106 Várzea Nova

fonte: Diario Oficial da União

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Obama busca aliados contra o califado


Um membro do Estado Islâmico segura uma faca junto a um grupo de soldados sírios capturados em Raqa. / AP
O presidente Barack Obama busca aliados para combater os jihadistas do Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque. Obama resiste a envolver seu país em outra guerra contra o terrorismo ou em novas aventuras unilaterais no Oriente Médio. A convicção da Casa Branca é que os bombardeios só conseguiram conter os jihadistas, mas derrotá-los exigiria uma coalizão com aliados internacionais e regionais. “Eliminar pela raiz um câncer como o Estado islâmico não será fácil nem rápido”, disse Obama esta semana. “Estamos fazendo um chamado urgente aos países da região para que apoiem os iraquianos na luta contra esses terroristas bárbaros e, com esse objetivo, estamos construindo uma coalizão internacional.” Desde que, no começo de agosto, começaram os ataques aéreos contra posições do EI no norte do Iraque, o Governo Obama insiste em que a solução para o conflito não é militar, nem está ao alcance das Forças Armadas norte-americanas. Obama acredita que os jihadistas ameaçam não só os interesses dos EUA, como também dos vizinhos do Oriente Médio e de outros aliados, entre eles os europeus. Na coletiva de imprensa diária, o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, disse na terça-feira que o envolvimento internacional é necessário para estabilizar a região no longo prazo. “Uma operação militar dirigida pelos EUA não é uma solução duradoura”, disse Earnest. O Pentágono debate se a operação deve ser ampliada para a Síria sem ter informações. Os EUA, que se retiraram do Iraque em 2001, voltaram a este país para bombardear o EI, com a permissão do governo iraquiano. O secretário de Defesa, Chuck Hagel, anunciou que sete países – Albânia, Canadá, Croácia, Dinamarca, Itália, França e Reino Unido – se juntaram aos EUA no compromisso de fornecer armas e equipamentos às forças curdas, que combatem os insurgentes sunitas no norte do Iraque. O debate em Washington é se a operação deve ser expandida para a Síria. Intervir neste país é mais complicado: os EUA não possuem informação de primeira mão sobre possíveis objetivos e não reconhecem o presidente deste país, Bashar Al-Assad. Há um ano, Obama esteve a ponto de bombardear ao regime de Al-Assad; agora está pensando em bombardear seus inimigos do Estado Islâmico. Aviões norte-americanos começaram a sobrevoar a Síria, nesta segunda, com o objetivo de coletar informações. É um passo necessário para que o presidente decida se deve atacar ou não, uma decisão que ainda não tomou e que esta semana foi motivo de múltiplas reuniões na Casa Branca com os máximos responsáveis do Pentágono e do Departamento de Estado. Se finalmente ocorrer uma intervenção, esta será modesta”, adverte um especialista “Cada vez mais a questão não parece tanto se [haverá um ataque] mas quando e como”, diz Brian Katulis, investigador no think tank Center for American Progress. Se finalmente os Estados Unidos intervierem, a operação será modesta, mais tática do que estratégica, acrescenta. Obama não que entrar sozinho na Síria, nem enfrentar unilateralmente a ameaça jihadista no vizinho Iraque. Por isso, a Casa Branca iniciou uma campanha diplomática em busca de aliados. O New York Times detalhou na quarta-feira a lista de países cuja colaboração foi solicitada pelos EUA: Austrália, Reino Unido, Jordânia, Qatar, Arábia Saudita, Turquia e os Emirados Árabes Unidos. Alguns destes países aumentariam a ajuda à oposição síria moderada; outros, como o Reino Unido e a Austrália, participariam nos ataques aéreos, segundo fontes oficiais citadas pelo Times. As lições da última década pesam em cada decisão do presidente Obama. Em sua visão da política exterior, um ataque unilateral, embora seja aéreo e exclua o envio de tropas, como é o caso no Iraque e na Síria, é um tabu. Os debates no governo Obama giram, nestes dias, em torno aos riscos da operação – no longo prazo debilita ou reforça o EI? –, quais objetivos devem ser escolhidos para o bombardeio e qual a efetividade de um ataque. “A questão agora é se [o Governo Obama] tem suficiente informação sobre o terreno para lançar algum tipo de ataque e, em segundo lugar, se tem um objetivo definido sobre o que pretende com os ataques”, diz Katulis. No Iraque, o objetivo era impedir o avanço do Estado Islâmico em direção a Erbil, a capital do Curdistão iraquiano, aliado dos EUA, e prevenir o massacre da minoria yazidi. Na Síria, os objetivos parecem menos definidos.

A lei que quer evitar a impunidade

Manifestantes invadem o Congresso, em junho de 2013. / VALTER CAMPANATO (ABR)
A lei da Ficha Limpa, como o próprio nome diz, determina que um candidato que tem a ficha suja, ou seja, que está envolvido em crimes como corrupção e abuso de poder econômico, seja cassado e fique inelegível a cargos públicos por oito anos. Antes da lei existir, o afastamento era de apenas três anos, o que permitia o retorno do político na eleição seguinte. Em vigor desde junho de 2010, a legislação foi proposta a partir de uma iniciativa popular promovida pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), que recolheu 1.604.815 assinaturas físicas e mais de 485.000 digitais para que a lei fosse aplicada. Apesar da lei ser vista com bons olhos pelos especialistas, existem brechas, ou melhor, possibilidades de que seja mal interpretada. Para um dos fundadores do MCCE, Márlon Reis, casos que geraram impugnação podem ser "precedentes para a aplicação da lei em outros casos", mas que a mesma "é passível de interpretação". Por isso muitos candidatos, mesmo com processos nas costas, continuam em campanha e podem chegar a ser eleitos. Essa incongruência, para o advogado Alexandre Bernardino Costa, do Observatório da Constituição e Democracia da Universidade de Brasília, não é necessariamente algo negativo, mas sim uma questão que tem dois lados. "A lei da Ficha Limpa surgiu porque havia um desejo da população de que a prática política não se misturasse com a má utilização dos recursos públicos", afirma, "mas há casos em que uma condenação do Tribunal de Contas da União, por exemplo, não chega a se concretizar em uma condenação judicial, mas o candidato já é considerado sujo", explica. Isso, segundo ele, faz com que "haja extremos na lei". "De um lado, administradores mais pobres, que têm menos capacidade de defesa jurídica, de outro, a satisfação da população de ver pessoas flagradas em processos de corrupção, por mais que tenham poder econômico." MAIS INFORMAÇÕES José Roberto Arruda desafia o TSE ao ignorar a lei do Ficha Limpa “Leizinha” Ficha Limpa barra candidato líder no Distrito Federal JUAN ARIAS: Falta pudor na política brasileira Duas situações recentes de ilegalidade explícita, como as do candidato a governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (PR-DF), que teve sua candidatura impugnada nesta terça-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral, e o de José Geraldo Riva (PSD-MT), presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, que responde a mais de 200 ações de improbidade, poderiam servir para julgar outros processos, como os do deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), que estão em andamento no Tribunal Superior Eleitoral. No entanto, os mecanismos para que a população se informe sobre a idoneidade de determinado candidato ainda são muito burocráticos e pouco divulgados. O próprio Conselho Nacional de Justiça tem uma ferramenta de busca por nome do candidato. O TSE também possui um buscador de candidatos, ainda que seja um pouco mais difícil de encontrar as listas com os nomes, divididos por cargo e estado. Para Reis, o objetivo da lei "não é promover a morte política das pessoas, mas dar um intervalo suficiente para que elas sejam substituídas por outras". E faz um balanço positivo da lei Ficha Limpa nessas eleições. "Em alguns pontos sabemos que falta clareza interpretativa, que se resolverá com o tempo, daqui a umas cinco eleições. De momento, a lei vai atingir os casos mais graves, eliminando os envolvidos da vida política. E tem conseguido fazer isso", conclui.

José Roberto Arruda desafia o TSE ao ignorar a lei da Ficha Limpa

A Justiça impugna a candidatura do ex-governador Arruda. /FOLHAPRESS
Um embate entre os vícios políticos brasileiros e uma lei criada por pressão popular está em curso no Distrito Federal. A candidatura de José Roberto Arruda (PR-DF) a governador da capital brasileira foi barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base na lei da Ficha Limpa, nesta terça. O candidato, filiado ao PR desde outubro de 2013, porém, anunciou que continuará em campanha, principalmente porque lidera as pesquisas, com 37% das intenções de voto, segundo o Ibope. Sua candidatura já havia sido impugnada pelo Tribunal Regional Eleitoral do DF. Arruda está tão decidido que procurou até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para consultá-lo sobre a possibilidade de recorrer da decisão no Supremo Tribunal Federal (STF). Cardoso o atendeu, mas sabendo da delicadeza do assunto, divulgou uma nota para esclarecer o fato. “O ex-governador Arruda falou comigo a respeito de seu recurso ao TSE. Queria que o julgamento ocorresse a tempo de, se favorável, concorrer ao governo de Brasília”, explicou em nota. O ex-presidente disse ainda que indagou o ministro Gilmar Mendes, do Supremo, par saber se havia chances. “Fui informado de que haveria um julgamento anterior que pré-julgaria o caso. Nada mais pedi a ninguém nem nada mais me foi dito”, diz o texto de Cardoso. MAIS INFORMAÇÕES A lei que quer evitar a impunidade JUAN ARIAS: Falta pudor na política brasileira “Leizinha” Ficha Limpa barra candidato líder no Distrito Federal O assunto chama a atenção, uma vez que os brasilienses protagonizaram uma das cenas mais fortes das manifestações de 2013, em 19 de junho, quando a população subiu no Congresso e promoveu gritos contra a má versação do dinheiro público. O mandato de Arruda, porém, foi marcado pela execução de obras de mobilidade que facilitou a vida dos moradores de cidades satélites. O atual governador Agnelo Queiroz, que tenta a reeleição, não tem a mesma simpatia dos eleitores. Por isso, o ex-governador vê a chance de atender aos ‘anseios do povo’, apesar da Ficha Limpa jogar contra. “O recurso dele não tem efeito suspensivo [que não suspende a decisão], então agora acho que não tem mais saída”, indica o advogado Alexandre Bernardino Costa, do Observatório da Constituição e Democracia da Universidade de Brasília. Para o juiz Márlon Reis, co-fundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, que a lei da Ficha Limpa mostrou com o caso de Arruda sua eficácia, mas critica a possibilidade do candidato de continuar em campanha. “Apesar da lei ter mecanismos para deter a campanha dos envolvidos em casos de corrupção, os mesmos não foram aproveitados por uma divergência interpretativa dos tribunais”, garante o magistrado. Há uma parcela da população que não dá importância a isso [aos casos de corrupção nos quais o candidato em quem se vota está envolvido]. É um trabalho cultural, de desenvolvimento do civismo e isso se dá com educação política" Marlón Reis, do MCCE Por seis votos a um, o TSE decidiu na noite de terça pela impugnação. Apenas o ministro Gilmar Mendes entendeu que a decisão deveria ter sido tomada no momento da apresentação da candidatura, e não agora. O candidato ao governo do DF foi condenado em julho deste ano por improbidade administrativa no caso do Mensalão do DEM, fruto de uma investigação da Polícia Federal de 2006, revelada em novembro de 2009. O mensalão do partido dos Democratas consistia em um esquema de pagamento de propina em troca de apoios a Arruda – que era então candidato ao mesmo posto que concorre agora – usando recursos públicos. O ex-governador Arruda falou comigo a respeito de seu recurso ao TSE. Queria que o julgamento ocorresse a tempo de, se favorável, concorrer ao governo de Brasília" Fernando Henrique Cardoso Estes recursos foram desviados de contratos de informática do Executivo do então governador Joaquim Roriz, que é pai da candidata a vice pela chapa de Arruda, Liliane Roriz (PRTB). Sua irmã, Jaqueline Roriz (PMN-DF), teve sua candidatura ao cargo de deputada federal impugnada pelo TRE-DF no mesmo dia em que Arruda também foi barrado – ambos foram condenados em segunda instância por improbidade administrativa. Votos, pese aos escândalos Nas eleições de 2006, apesar do escândalo do mensalão do DEM já ser de conhecimento público, ele foi eleito no primeiro turno, como representante do PFL ao Governo do DF. Deixou o cargo, no entanto, porque foi preso em 2010 por outra tentativa de suborno relacionada ao mesmo mensalão – ele teria tentado impedir que um jornalista publicasse informações a respeito do assunto. A prisão foi decidida pelo Superior Tribunal de Justiça, mas foi revogada pelo mesmo órgão dois meses depois. Para se defender, o candidato criou um site chamado Golpe de 2009, onde afirma que tudo não passou de "uma mentira". Em abril deste ano, Arruda foi condenado a cinco anos de prisão por conta de outra investigação: não fez uma licitação obrigatória para a reforma de um ginásio da capital para um jogo entre Brasil e Portugal, quando era governador, em 2008. Arruda era o líder do PSDB no Senado quando se envolveu no escândalo da manipulação dos painéis eletrônicos durante a votação da cassação do senador Luiz Estevão, em 2001. Arruda atuou com o já falecido senador Antônio Carlos Magalhães, o que fez com que ambos renunciassem para não perder os direitos políticos e não serem cassados. Tanto ACM quanto Arruda foram eleitos após o escândalo: ACM teve 2,9 milhões de votos na Bahia em 2002, e voltou ao Senado, enquanto Arruda foi o deputado federal mais votado do Distrito Federal (26,53% dos votos). A razão para tal resultado, apesar de todas as evidências da falta de idoneidade dos candidatos, tem uma explicação difícil de sustentar, até mesmo pelos especialistas. “Há uma parcela da população que não dá importância a isso [aos casos de corrupção nos quais o candidato em quem se vota está envolvido]. É um trabalho cultural, de desenvolvimento do civismo e isso se dá com educação política”, expõe Reis. Costa reconhece a situação, mas não consegue explicar o paradoxo. “A população tem a sensação de impunidade, mas temos que separar o que é a elegibilidade do político e o comportamento político das pessoas. Candidatos que tiveram comportamentos inadequados perante a lei se recolocaram”. Um representante desta realidade é o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que sofreu um impeachment em 1992 e hoje é senador pelo PTB e candidato à reeleição.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Brasil, um país sem uma política de segurança pública

Policiais durante uma abordagem em São Paulo. / MARCELO CAMARGO (AG. BRASIL)
Há duas décadas as primeiras pesquisas de opinião identificaram que a segurança pública seria um dos temas que deveriam ser levados aos debates presidenciais no Brasil. Isso porque é um assunto que passou a preocupar os cidadãos, diante do aumento das taxas de roubos e homicídios, da baixa resolução dos crimes e do consequente aumento da sensação de insegurança. MAIS INFORMAÇÕES O Brasil não pode mais perder 50.000 vidas para a violência A oposição quer aumentar a participação da União na segurança pública O Governo propõe maior integração entre polícias para repetir o sucesso da Copa Os policiais brasileiros querem desmilitarizar a instituição Naquela época, a taxa de homicídios era de 20,2 para cada grupo de 100.000 habitantes. Ou seja, a cada dia 83 pessoas eram assassinadas no país. Depois de dois governos tucanos (Fernando Henrique Cardoso – 1995 a 2002) e quase três petistas (Lula da Silva – 2003 a 2010 e Dilma Rousseff – 2011 a 2014) a taxa saltou para 29, o que quer dizer que 154 assassinatos acontecem por dia. Com exceção dessa elevação, pouco parece ter mudado, segundo analistas consultados pelo EL PAÍS e conforme os mais recentes levantamentos feito a esse respeito. Uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada no início deste mês mostrou que 25% dos brasileiros dizem que o problema que mais o aflige é a segurança pública. Só a saúde tem um índice maior, 32%. Casos recentes de assassinatos, como uma chacina em janeiro no interior de São Paulo ou a rebelião em uma penitenciária do Paraná neste fim de semana, só reforçam essa percepção negativa que atinge governadores, prefeitos e o presidente da vez. “Para os cidadãos não importa se a lei diz que a responsabilidade pela segurança pública é do Estado. Para eles, todos são responsáveis e, de certa maneira, eles têm razão”, ponderou o coordenador do Núcleo de Estudos sobre Violência da Universidade de Brasília, Arthur Trindade Costa. O governo federal se mostrou muito tímido na tarefa de induzir reformas e em buscar instrumentos que melhorem a segurança Arthur Trindade Costa, professor da UnB Pesquisador do tema há quase vinte anos, Costa diz que as ações precisariam de uma integração maior entre todos os entes e esse protagonismo deveria ser da União. “Até agora, o governo federal se mostrou muito tímido na tarefa de induzir reformas e em buscar instrumentos que melhorem a segurança”, avalia. O que chama a atenção é a falta de continuidade de projetos nas trocas de governos. Um exemplo é o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), criado na gestão Lula, mantido nos primeiro anos de Rousseff, e extinto por ela mesma na segunda parte de seu mandato em troca do projeto Brasil Mais Seguro. “Em muitos casos a participação do governo federal se resume em comprar viaturas e oferecer treinamento para os policiais. Isso não é uma política de segurança”, diz o sociólogo José Luiz Ratton, professor da Universidade Federal de Pernambuco e um dos idealizadores do Pacto Pela Vida, projeto do governo pernambucano que reduziu os homicídios em quase 60% em sete anos. A vida vale muito pouco no Brasil Pedro Bodê de Moraes, professor da UFPR Obscuro A falta de transparência na divulgação dos dados é outro fator que dificulta a criação de um plano nacional de segurança e de qualquer outro planejamento. Países como os Estados Unidos ou o Canadá produzem há quase um século anuários estatísticos detalhando onde ocorreram os principais crimes. O governo brasileiro nunca fez por si só nada parecido. Ao invés disso, financia alguns projetos específicos, como o anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública ou Mapa da Violência. São iniciativas importantes, mas sem o carimbo direto da União. Sem informação, o índice de esclarecimento de crimes se reduz. Isso sem contar a falta de estrutura que influencia diretamente nesse quesito também. O estudo “Investigação sobre homicídios no Brasil”, lançado em maio de 2013, mostra que dependendo do Estado menos de 15% dos casos são solucionados. Um dos problemas é a falta de estrutura. Em algumas cidades do entorno do Distrito Federal, por exemplo, há quatro policiais para esclarecer qualquer crime. “Para se solucionar um homicídio, o ideal é que o policial esteja no local do assassinato em menos de 24 horas depois do ocorrido. Mas com essa quantidade de pessoal, isso não é possível”, afirma o pesquisador Trindade Costa. Outro empecilho é a falta de empenho dos governantes. “O papel do gestor de segurança é fundamental. Os casos brasileiros em que houve um avanço tiveram a participação direta dos secretários ou governadores. Isso deveria ser replicado nacionalmente”, pondera o pesquisador Bráulio Silva, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais. Nas eleições deste ano o tema voltou a fazer parte dos programas de governo dos principais candidatos. As equipes das campanhas do PSDB, de Aécio Neves, e do PSB, de Marina Silva, já deixaram claro que vão tentar repetir as ações que seus partidos tomaram em dois Estados que governaram, Minas Gerais e Pernambuco. Já o PT, de Dilma Rousseff, não deixou claro se manterá a atual política de financiamento eventual dos Estados, sem uma intervenção direta, ou se implantará algo mais profundo. Para o sociólogo Pedro Bodê de Moraes, da Universidade Federal do Paraná, sem uma política de segurança que privilegie a redução principalmente dos homicídios, o Governo vai passar um duro recado à sociedade: “A vida vale muito pouco no Brasil”.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

ESCOLA ESTADUAL NANCY DE CASTRO ESTEVES DE VILA DO CAFÉ, NECESSITA COM URGÊNCIA DE EQUIPAMENTOS E SEGURANÇA REFORÇADA.

ESCOLA ESTADUAL NANCY DE CASTRO ESTEVES DE VILA DO CAFÉ, NECESSITA COM URGÊNCIA DE EQUIPAMENTOS E SEGURANÇA REFORÇADA.

A Escola Estadual Nancy de Castro Esteves, localizada no Distrito de Vila do Café, Distrito de Encruzilhada, foi alvo de vandalismo e arrombamento no Mês de Agosto. A informação é que um grupo formado por vândalos e ladrões jovens tenham sido os responsáveis pelos problemas.
Na ação, os suspeitos reviraram a sala dos professores, o depósito, além de armários. Computadores e outros equipamentos, só não foram levados em virtude da ausência pelo não fornecimento. pela Direc 20, Centro Educacional José Palles Sobrinho, Secretaria Estadual de Educação e Governo Estadual.
Segundo o Diretor da Escola, Alan, os suspeitos teriam entrado pela escola através de um buraco do muro.
Ainda de acordo com o diretor, a ação só não foi toda registrada pelas câmeras do circuito interno de segurança, porque não existe e que foram feitos vários boletins de ocorrências na Delegacia de Polícia de Encruzilhada - Bahia.
já são vários arrombamentos e pixações na Escola Estadual Nancy de Castro Esteves do Distrito de Vila do Café, Município de Encruzilhada em menos de seis Meses.
CADÊ O VEREADOR DO DISTRITO DA  VILA DO CAFÉ, QUE NÃO REIVINDICA ABSOLUTAMENTE NADA? GRITA  OS MORADORES!

O maior terremoto em 25 anos na Califórnia paralisa Napa

O funcionário de uma loja de vinhos em Napa limpa o chão. / DAVID PAUL MORRIS (BLOOMBERG) | VÍDEO: REUTERS-LIVE!
A funcionária da Foster Freeze, uma loja de sorvetes e milk-shakes do tipo que obstrui as veias, sai com uma criança de origem salvadorenha. Ele não sabe quando voltará ao colégio, e ela traz um esparadrapo na cabeça. Durante o terremoto, foi atingida por uma garrafa. O comércio, nos arredores de Napa, registra uma atividade superior à habitual para um domingo à tarde. É um dos poucos lugares que continua aberto apesar da intensidade dos tremores de terra que atingiram a Califórnia neste sábado. Chegar ao local não é simples. Stephen Stangland, responsável pelas obras públicas do município, acionou sua equipe às cinco da manhã. Depois de inspecionar a situação do asfalto nas ruas, decidiu dar prioridade à via principal de acesso, que liga à rodovia 101, o antigo Caminho Real usado pelos missionários espanhóis na fundação de grande parte dos núcleos urbanos da região. A equipe de 20 operários esperava terminar os trabalhos de reativar a via de acesso antes da meia-noite de domingo para segunda. Cerca de 20 valetas, rachaduras e buracos tornam o caminho impraticável, a menos que se use um 4 x 4. Em Napa, tudo cheira a vinho. Estranho, não é tempo de produção. Ao contrário, a colheita está a ponto de começar e as adegas existentes na cidade não curam o vinho, apenas o vendem. O perfume provém da quantidade enorme de garrafas que caiu das prateleiras. Heriberto Villa, mexicano, é um dos funcionários da Val’s Liquors, a maior loja de vinho de Napa. Antes das seis, tinha chegado a seu local de trabalho. Neste domingo não veste camisa e calça de algodão, o vestuário habitual para aconselhar os turistas sobre a bebida que mais agradaria seu paladar. Hoje está de calça larga, camiseta e botas de plástico, esfregão e traz vários cestos de reciclagem para o vidro. Seu chefe estima as perdas em mais de 100.000 dólares e dá por arruinadas mais da metade das garrafas, ou até mais. “Ainda que não tenham se quebrado, quando têm manchas já não podemos mais vender”, lamenta.” Se receberem autorização, esperam abrir ao público na terça-feira. Os vizinhos reclamam muito de que o alerta não tenha se ativado até dez segundos antes do primeiro tremor Alexis, que dirige a loja ao lado, uma cafeteria e confeitaria, deixou alguns bolinhos e café em uma mesa dobrável. Os policiais que patrulham de bicicleta ajudam a fechar a entrada, cujo vidro se quebrou. O pior está dentro, a louça está destruída, as lâmpadas fluorescentes da cozinha caíram. O confeiteiro, seu marido, está no hospital do condado devido aos fragmentos que o feriram quando tentou ver o estado do local. O edifício Alexandria, em Napa. / NOAH BERGER (AP) Sem missa e sem correio Neste domingo não houve missa. As duas igrejas da cidade apresentam um lacre que impede a entrada. Tanto a católica como a presbiteriana. Na primeira, a moldura das paredes está a ponto de cair. Na segunda, os vitrais se quebraram e os caixilhos das portas ameaçam desabar a qualquer momento. Dewey Lucero tem sua própria loja de azeites de oliva, com diferentes sabores, macerações e variedades de azeitonas. Todos feitos na Califórnia. Abriu a loja em outubro, esperando um futuro boom, similar ao do vinho. Pede que não se entre na loja, está tudo escorregadio. “Os hospitais já têm trabalho suficiente.” Estima que mais de 500 garrafas tenham se quebrado. O preço de mercado é de cerca de 20 dólares por unidade. O comércio típico da região, especialmente de vinhos, licores e azeites, foram seriamente afetados, mas não há vítimas fatais Quanto mais ao centro, mais desolação. Há pouca gente pelas ruas, só curiosos que logo decidem esquecer o problema e se transformam em força motriz. Os proprietários das lojas fecham a entrada com painéis de aglomerado. A situação de dois edifícios históricos teve uma sorte parecida. A cidade de menos de 80.000 habitantes vai ficar alguns dias sem receber correspondência. A agência dos Correios, um edifício ladrilhado inaugurado em 1933, está com todos os vidros das janelas pendurados, há escombros nas esquinas e rachaduras em quase toda a estrutura. O outro é a biblioteca Goodman, cujos restos continuam caindo das paredes para a calçada, inutilizando a iluminação da entrada. O perigo é evidente, pois é feita de granito e cimento. O prédio, doado por um banqueiro local em 1901, era a construção mais antiga da cidade. São mais de 100 os edifícios em cuja entrada aparece um cartaz vermelho e uma faixa plástica da mesma cor ou amarela, segundo o perigo que apresente. No entanto, há um que dói especialmente. Rhonda Prudente-Borges não se consola com os telefonemas de amigos. Ela mora em Smernes Place, uma das casas mais conhecidas da região, erguida em 1906. É o que se denomina arts and crafts house, com sua varanda, cadeira de balanço, escadas de madeira e vergas decoradas. O interior é desolador, rachaduras, restos de gesso, pedaços de jarros e uma cozinha que parece saída de um naufrágio. “A primeira coisa são os danos pessoais, dou graças a Deus por estarmos todos bem, mas a casa não tem seguro contra terremoto e gastei mais de 250.000 dólares para restaurá-la”, lamenta-se. Seu único trunfo é que, por morar em um edifício declarado de interesse histórico oficial, talvez o Estado se encarregue dele. Na porta Rick Wonneberg, coordenador da equipe de resgate, monta guarda. Ele comemora o fato de o vilarejo carecer de vida noturna. Dos 86 feridos que passaram pelo hospital, só se teme pela vida de três, dois adultos e um menino que foram atingidos por uma chaminé. “Não quero nem pensar no que teria acontecido se o terremoto fosse em um sábado ou domingo, em plena luz do dia. Teria sido uma desgraça. A sorte é que as ruas estavam vazias, não havia nada aberto. Do contrário, o resultado seria trágico”, insiste. As autoridades locais convocaram uma coletiva de imprensa, aberta aos moradores, para as duas da tarde de terça-feira, para explicar a situação da cidade e como planejam a reconstrução. Se não houver questionamentos, o estado de emergência será cancelado. Então serão resolvidas algumas dúvidas, como o auxílio que poderiam receber para a reconstrução, a estimativa de danos e a volta dos serviços de luz, gás, educação e correio. O que parece difícil de explicar, mas não deixa de levantar polêmica, tanto em conversas informais como nas redes sociais, é como é possível que o alerta de terremoto tenha sido ativado apenas 10 segundos antes do tremor. Um quarto de século depois do terremoto de Loma Prieta esperava-se que a tecnologia que tanta prosperidade traz para a região tivesse sido mais útil nessa situação. Os habitantes da baía viviam em silêncio o pôr do sol na tarde de domingo, com a preocupação lógica de quem sabe que, nos próximos dias, a possibilidade de repetição dos tremores ainda existe. Jovens andam de skate em Napa depois do terremoto. / JOSH EDELSON (AFP)

A morte de um incansável empreendedor apaixonado pelo Brasil

Antônio Ermírio de Moraes, que morreu aos 86 anos. / MOACYR LOPES JÚNIOR/FOLHAPRESS
A vida teve um quê de ironia na trajetória de Antonio Ermírio de Moraes, que morreu na noite deste domingo, aos 86 anos. O inquieto workaholic que construiu o império da Votorantim, com suas 96 unidades, estava há quatro anos com Alzheimer, que foi lhe roubando a lucidez, sua principal marca como empresário e cidadão. “Ele se tornou um pregador”, escreveu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no prefácio do livro Antônio Ermírio de Moraes Memórias de um diário confidencial, escrito pelo sociólogo e amigo pessoal da família Moraes, José Pastore. Por muito tempo a classe empresarial no Brasil apoiava que o país tivesse a economia fechada, como nos tempos da ditadura, e esperava do Governo medidas para ajudá-la a atuar. Moraes, um corintiano roxo, nascido em São Paulo, filho do ex-senador José Ermírio de Moraes, era o oposto. Formado na Escola de Minas do Colorado, para onde seguiu aos 16 anos, em meados de 1945, Antônio Ermírio tinha uma visão progressista do mundo, e aproveitava para investir mais quando o Brasil estava em dificuldades, ao contrário dos seus pares. “É na hora da crise que temos de confiar no país”, alertava. “Quem pensa a médio prazo não tem razão para reduzir os investimentos. Quem pensa a longo prazo tem toda a razão para dobrá-los”, repetia. Talvez por isso, suas empresas, que no ano passado faturaram 26,6 bilhões de reais, 14% a mais do que no ano anterior, sempre se destacaram no cenário nacional. Com atuação na área de cimento, metais, siderurgia e papel e celulose, Moraes é descrito como um verdadeiro cientista. Era obcecado por inovação num tempo em que o Brasil ainda estava sem rumo na economia. Indignado diante dos problemas que abatiam o país e atrapalhavam o seu desenvolvimento, foi voz ativa pela volta da democracia durante o Governo militar, negando qualquer proximidade que demonstrasse apoio ao regime de exceção. Foi contra o projeto de construir uma usina nuclear nos anos 70, que traria mais endividamento ao Brasil, num momento em que a dívida externa era um problema sério. Nos anos anos 2000, alertava incansavelmente sobre o risco que o país corria de ter um apagão de energia por falta de planejamento do setor. Suas palavras se mostraram acertadas quando em 2001 o Brasil ficou no escuro pelo descasamento entre oferta e demanda de eletricidade, e precisou adotar uma política de racionamento. Foi crítico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início do seu governo, mas no final reconhecia que ele estava fazendo um bom Governo. Irônico e engajado, com uma “volúpia para que o Brasil desse certo”, como o descreve José Pastore, Moraes era habilidoso com as palavras para descrever suas posições, retratadas em colunas semanais no jornal Folha de S. Paulo, até 2008. “Se eu não acreditasse no Brasil, seria banqueiro”, dizia, crítico do ganho fácil da ciranda financeira nos tempos de inflação. “Os banqueiros são agiotas que emprestam a juros altos, exigem garantias sólidas e nada criam”, cutucava o empresário. “Quem não confia no Brasil deve ir para o exterior com passagem só de ida”, afirmava ele, famoso por sua pouca vontade de viajar para fora, e pelas suas extensas jornadas de trabalho. Seu lado workaholic ilustrava algumas histórias suas, como a da lua de mel, com a sua mulher, Regina, pela Europa. Pediu a ela para acompanhá-lo para conhecer algumas fábricas de alumínio no velho continente, pedido atendido pela parceira de seis décadas, com quem teve nove filhos. Inquieto, tentou se eleger governador de São Paulo em 1986 pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), mas perdeu para Orestes Quércia (PMDB). Moraes ainda tentou levar um pouco da sua temática sobre o país para o teatro, seu hobby, escrevendo e produzindo três peças: Brasil S.A., SOS Brasil e Acorda Brasil. Em nota, o Grupo Votorantim destaca que “o dr. Antônio colaborou para o desenvolvimento socioeconômico e empresarial do Brasil. Por isso, seu legado ultrapassa os limites da Votorantim e apresenta-se como contribuição à sociedade brasileira”. Se corpo está sendo velado na Beneficência Portuguesa, um hospital que ele ajudou a construir, e será enterrado no cemitério do Morumbi na tarde desta segunda-feira.

Hollande força uma mudança de governo para lançar suas reformas

François Hollande e Manuel Valls, em 15 de agosto. / AFP
A retomada política na França estava sendo anunciada como quente, mas explodiu antes do tempo com uma grave crise de Governo. O primeiro-ministro da França, Manuel Valls, apresentou nesta segunda-feira sua lista de demissões do Governo ao presidente do país, François Hollande, como parte da formação de um novo Executivo, depois que o presidente solicitou a ele uma remodelação governamental. Valls se reuniu nesta manhã com Hollande para anunciar sua decisão. Segundo um comunicado da Presidência, “o chefe de Estado pediu ao primeiro-ministro que monte uma equipe de acordo com as orientações que ele mesmo definiu para o país. A composição do novo Governo será anunciada na terça-feira”. MAIS INFORMAÇÕES Hollande anuncia uma liquidação fiscal para as rendas mais baixas A estagnação da França lança dúvidas sobre a recuperação Em dois meses, a França revoluciona seu mapa regional Entrevista com Manuel Valls Em um movimento perfeitamente coordenado com a Presidência, Valls reforma sua equipe presumivelmente para livrá-la de uma minoria de ministros críticos à política de reformas econômicas que Hollande vem conduzindo desde janeiro, quando propôs um “pacto de responsabilidade” para impulsionar novamente a produtividade francesa à custa de profundos cortes e vantagens para as empresas avaliadas em mais de 40 bilhões de euros (120 bilhões de reais). Espera-se que o novo gabinete seja uma demonstração de firmeza diante das críticas direcionadas a Valls nos últimos dias. Após semanas subindo o tom de suas indiretas contra o primeiro-ministro, Arnaud Montebourg, ministro da Economia, se colocou na porta de saída do Governo ao atacar duramente as diretrizes econômicas do Executivo em uma entrevista ao jornal Le Monde. Montebourg desafiou a receita de contenção de gastos da Alemanha: “É preciso dar prioridade à saída da crise e colocar em segundo plano a redução dogmática do déficit, que nos leva à austeridade e ao desemprego”. Nesta manhã, antes do anúncio da crise de Governo, Montebourg deu uma entrevista à rede de TV Europe 1 na qual ratificou sua posição e afirmou não saber por quanto tempo ainda seria ministro já que não leva a sério a possibilidade de uma reforma do Executivo. Suas declarações soaram como uma provocação a Manuel Valls: “Me parece que alguns não se separam dos ministros que fazem propostas dentro de um debate legítimo”. Em sua opinião, “não houve nenhum questionamento da solidariedade governamental”. Benoît Hamon, ministro da Educação e outra importante voz crítica às políticas de austeridade da dupla formada por Hollande e Valls, apoiou no domingo os comentários de Montebourg, no jornal Le Parisien e em uma festa do Partido Socialista (PS) em Frangy-en-Bresse, a chamada Festa da Rosa. E ainda se declarou próximo aos 41 deputados socialistas rebeldes que criticaram as reformas na Assembleia Nacional. Com Montebourg e Hamon, outros ministros também se mostraram críticos com as reformas, embora de forma mais moderada. É o caso das ministras de Justiça, Christiane Taubira e da Cultura, Aurélie Filipetti. Esta última declarou hoje que não deseja continuar no próximo Gabinete de Valls. A crise no Governo também tem seu impacto a nível europeu. A França, muito criticada em Bruxelas por não cumprir as metas de déficit, não tinha precisamente em Montebourg um apoio diplomático. Profundamente germanófobo e euro-hostil, além de tradicional inimigo da imprensa liberal anglo-saxã e alemã, Montebourg atacava com frequência as políticas de contenção de Bruxelas e de Berlim. Dispensando-o, Hollande abre caminho para negociações fundamentais, como as com os membros da nova Comissão Europeia de Jean-Claude Juncker. Hollade pretende que Juncker conceda uma importante pasta econômica a Pierre Moscovici, ministro da Economia até março passado. Um contexto de cortes Em 29 de abril, Manuel Valls anunciou os maiores cortes dos gastos públicos da história moderna francesa diante de uma Assembleia Nacional dividida e de um PS fragmentado. Valls obteve aprovação para um ajuste de 50 bilhões de euros (150 bilhões de reais) em três anos em uma votação com 265 votos favoráveis, 232 contra e 41 abstenções dentro de seu próprio partido. Montebourg e Hamon são os ministros mais próximos desses rebeldes que transformaram sua atuação parlamentar em um enfrentamento permanente com Valls. “Não podemos mais viver acima de nossas possibilidades”, disse Valls naquele dia, pedindo com veemência (e pouco sucesso) o apoio simbólico dos socialistas. Na ocasião, ele apresentou o Programa de Estabilidade trienal que a Comissão Europeia exigiu a Paris para reduzir o déficit da França como uma “decisão soberana”, imprescindível para criar empregos, aumentar a competitividade das empresas, voltar a crescer, diminuir o déficit – “que está nos asfixiando”, enfatizou -, e garantir “a justiça social e o poder aquisitivo dos mais desfavorecidos”. Desde então os conflitos sociais têm perseguido o Executivo. Um exemplo foi a dupla greve de ferroviários e de funcionários da indústria do entretenimento, em junho. Os primeiros mantiveram metade dos trens da França parados durante uma semana em protesto contra a futura reforma ferroviária. Os segundos (trabalhadores autônomos de teatro, música, dança, televisão e cinema) forçaram o cancelamento de dezenas de espetáculos como maneira de contestar a reforma de seu regime de proteção ao desemprego. Manuel Valls assumiu o lugar de Jean-Marc Ayrault em 1o de abril, depois da queda dos socialistas nas eleições municipais de março. Chegou ao Governo com uma ampla agenda de reformas e formou um Executivo comprometido, trazendo pela mão rostos conhecidos como o de Ségolène Royal e respeitando boa parte dos ministros já em seus cargos. Entre seus gestos conciliadores, teve destaque o de entregar a pasta da Economia a Arnaud Montebourg, que já fazia parte do gabinete de Ayrault e representava a ala mais esquerdista do partido. Com o apoio dado hoje a Valls, Hollande faz vista grossa à baixa popularidade de seu primeiro-ministro, que, menos de seis meses depois de ser nomeado, conta com o apoio de apenas 36% dos franceses, segundo pesquisa do instituto Ifop para o Le Journal du Dimanche. Dessa forma, Hollande oferece ao primeiro-ministro a possibilidade de organizar um Executivo a seu gosto. “A França não pode esperar”, argumentou o presidente francês em julho. Ele já quis calar as vozes discordantes e apoiou incondicionalmente seu primeiro-ministro: “Eu o nomeei por causa de sua eficiência, sua capacidade de organização e sua rapidez. Alguém acha que eu indicaria um primeiro-ministro para ele fazer uma política que eu não quisesse?”, indagou. “Nada nos separa em nossos objetivos”, disse. A crise econômica francesa O PIB cresceu 0,3% em 2013. A dívida pública alcançou 93,6% do PIB em março. A França paga quase 50 bilhões de euros por ano em juros. A taxa de desemprego passa de 10%. O Pacto de Responsabilidade, cujas linhas gerais foram aprovadas pelo Parlamento em abril, prevê descontos em impostos para as empresas que aceitarem reduzir seus rendimentos em 41 bilhões de euros. Cortes de impostos para as famílias representam 5 bilhões de euros. Para compensar, Hollande pretende reduzir em 50 bilhões de euros o gasto público entre 2015 e 2017. Desse total, 18 bilhões de euros correspondem às despesas do Estado; 11 bilhões de euros, às administrações regionais e locais; 10 bilhões de euros, à saúde; e 11 bilhões em outros serviços. A maior parte dos cortes terá que ser definida nos próximos orçamentos. Já está aprovado o congelamento das aposentadorias superiores aos 1.200 euros mensais.

domingo, 24 de agosto de 2014

A OTAN acusa a Rússia de usar sua artilharia contra as tropas de Kiev

Jovens ucranianos comemoram hoje o Dia da Bandeira. / ROMAN PILIPEY (EFE)
O secretário geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, afirmou nesta sexta-feira que a Aliança do Atlântico tem acompanhado “desde meados de agosto” a transferência de grandes quantidades de armas, tanques, artilharia e veículos blindados para as milícias pró-russas que combatem o exército ucraniano no leste do país. No mesmo comunicado, enfatizou que o armamento de Moscou está sendo usado contra os militares ucranianos e se mostrou “alarmado” com a acumulação de forças aéreas e terrestres russas ao redor da fronteira entre os dois países. Rasmussen apontou que, em vez de diminuir a tensão, o Kremlin está “contribuindo” para aumentá-la, apesar dos esforços do resto dos atores da comunidade internacional. “Isso só pode conduzir a um maior isolamento da Rússia”. O chefe da OTAN também incita a Rússia a não realizar “mais ações provocadoras” e condenou a “grave violação” dos compromissos internacionais em relação a entrada do comboio humanitário de ajuda russa na Ucrânia, sem autorização e sem escolta. Para ele, esses feitos só podem “aprofundar” uma crise “que a própria Rússia criou e alimentou”. Os atrasos artificiais para começar a entrega da ajuda humanitária russa às regiões do sudeste da Ucrânia são intoleráveis Ministério das Relações Exteriores Um porta-voz da aliança militar declarou que a OTAN dispõe de "múltiplos informes" sobre a "implicação direta" de forças aéreas russas e de unidades de intervenção especial em operações no leste da Ucrânia. "O apoio da artilharia russa — tanto a partir da Rússia quanto dentro da Ucrânia — está trabalhando contra as forças armadas ucranianas", acrescentou. Esta mesma fonte acrescenta que essa ação se une à recente acumulação de efetivos russos de terra e ar na proximidade da fronteira. No começo do mês, a OTAN advertiu que Moscou dispunha de 20.000 soldados nas regiões orientais do país. Por sua vez, os EUA advertiram que tomarão "ações adicionais" contra a Rússia caso não retire o comboio de caminhões, teoricamente carregados com ajuda humanitária. O Pentágono qualificou como "entrada não autorizada" a chegada dos veículos russos e destacou que as autoridades norte-americanas estão avaliando a situação com seus sócios internacionais, em referência à União Europeia. Depois de vários dias de espera na fronteira, os primeiros caminhões do comboio de ajuda humanitária russa chegaram pouco depois das cinco da tarde desta sexta-feira (hora local) à cidade de Lugansk, bastião pró-russo cercado pelo Exército ucraniano, segundo informaram meios de comunicação russos. Cansado dos obstáculos impostos por Kiev, o Kremlin autorizou unilateralmente a travessia, apesar de os funcionários de alfândega não terem se apresentado pela manhã para formalizar a passagem do comboio. Os 262 caminhões — dos quais apenas 34 foram inspecionados pelos aduaneiros ucranianos — atravessaram a fronteira de Izvarino para se dirigir a Lugansk via Krasnodon. “O lado russo decidiu agir. Nossa coluna com carga humanitária começa a se dirigir para Lugansk”, anunciava na manhã de sexta-feira o Ministério das Relações Exteriores russo, que acusava as autoridades ucranianas de relaxar intencionalmente os procedimentos aduaneiros e destacava que “a situação com os intermináveis atrasos artificiais para começar a entrega da ajuda humanitária russa às regiões do sudeste da Ucrânia é intolerável”. A Cruz Vermelha, prevista para escoltar os furgões, anunciou que seus funcionários não acompanham o carregamento russo devido “à situação instável” e à falta de “garantias suficientes de segurança por parte das forças em conflito”. A UE condenou a decisão da Rússia de entrar na Ucrânia sem escolta da Cruz Vermelha e sem o consentimento do Governo de Kiev. “Trata-se de uma violação da fronteira e vai contra os acordos prévios estipulados entre Ucrânia, Rússia e a Cruz Vermelha. Esperamos que a Rússia reverta sua decisão”, declara um porta-voz da Comissão. O porta-voz do Krêmlin, Dimitri Peskov, disse pouco depois da declaração do Ministério das Relações Exteriores que o presidente Vladimir Putin estava “informado” de que a coluna de caminhões com alimentos destinados a aliviar a situação desesperada dos habitantes das cidades bloqueadas tinham tomado o rumo de Lugansk. “Em 22 de agosto, a Rússia, ignorando tanto as normas internacionais estabelecidas quanto os precedentes e acordos fechados, sem permissão e sem acompanhamento do Comitê da Cruz Vermelha Internacional, deu início à entrada ilegal de carga humanitária em território ucraniano”, diz a declaração divulgada pela Chancelaria de Kiev. Para o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, trata-se de uma "grave violação" das leis internacionais, termo também utilizado pelo Ministério das Relações Exteriores ucraniano. O Ministério pediu a comunidade internacional que se "una" para "condenar de forma decisiva essas ações agressivas e ilegais". O chefe do Serviço de Segurança, Valentin Nalivaychenko, foi mais além e falou em "invasão direta" por parte da Rússia. Tanto Nalivaychenko quanto o Governo negaram, no entanto, qualquer pretensão de bloquear o avanço do comboio, já que consideram que isso seria uma "provocação" e poderia agravar o conflito. A Ucrânia considera que a entrada do comboio em seu território demonstra “o caráter premeditado e agressivo das ações russas”. Kiev adverte que “toda a responsabilidade pela segurança do carregamento recai sobre a parte russa” e que “o rumo tomado pelo comboio é alvo de fogo” dos rebeldes. Os ucranianos chamam “todos os parceiros internacionais a se unir para a condenação definitiva das ações ilegais e agressivas da Federação Russa”. No campo de batalha, os separatistas derrubaram um helicóptero Mi-24, anunciou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia, Andrei Lisenko, que acrescentou que a tripulação estava morta. O fato aconteceu na quarta-feira perto do povoado de Gueorguievka, na província de Lugansk, e Lisenko explicou que não tinham informado antes sobre o incidente para que houvesse a possibilidade de organizar uma operação de busca para recuperar os corpos dos pilotos. As forças governamentais continuam atacando os centros rebeldes a leste da Ucrânia. A artilharia bombardeou três bairros de Donetsk na manhã de sexta-feira, segundo a Prefeitura local. Lugansk continua sem luz nem comunicação, enquanto os projéteis continuam explodindo no centro da cidade, causando mais danos, informam as autoridades municipais. Os habitantes não recebem nem salários nem pensões e sofrem com a escassez de alimentos, remédios e combustível.

A astúcia política de Marina Silva é colocada à prova na corrida eleitoral

Marina Silva, na sexta-feira em São Paulo. / SEBASTIÃO MOREIRA (EFE)
Marina Silva, de 56 anos, premiada internacionalmente por seu empenho na luta a favor da ecologia, aspira a ser a primeira mulher negra a reger os destinos do Brasil. Conhecida como intransigente com os modos da “velha política”, acredita que é possível conjugar crescimento econômico com uma forte dose de justiça social. Afirmou: “Não nego meu desejo de tentar conjugar o pragmatismo com os sonhos”. Seu nome, Marina, é um apelido como também é o de Lula. É chamada de “Lula de saias”. Militaram juntos durante 30 anos, no Partido dos Trabalhadores (PT), ambos forjaram-se política e socialmente nos movimentos sindicais de esquerda. Marina, cujo nome é Maria Osmarina Silva de Lima, possui, como o ex-sindicalista Lula, um forte carisma popular ainda que mais tingido de misticismo e intransigência. As origens de Marina, nascida na comunidade de Breu Velho, em Rio Branco, no Estado do Acre, no norte do país, porta de entrada da Amazônia, são talvez mais humildes que as de Lula. Sua família com 11 filhos dos quais sobreviveram somente oito, passava fome extraindo borracha entre os chamados “seringueiros” e vivia em uma casa de palafita. Marina não pôde ir à escola pois tinha de trabalhar com seu pai. Seu primeiro trabalho foi de empregada doméstica. Já com 16 anos entrou no programa Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) em Rio Branco, capital do Acre. Quis se tornar religiosa em um convento da cidade, mas escutando uma conferência sobre a Teologia da Libertação, decidiu entrar na política. Afiliou-se ao Partido Comunista Revolucionário que estava ligado então ao Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula, no qual entrou no ano seguinte e do qual esteve afiliada durante quase 30 anos. Ao contrário de Lula, que não concluiu um curso superior, Marina, auxiliada economicamente por um amigo deputado, cursou a Universidade e se licenciou em História. Junto com o mítico sindicalista Chico Mendes, assassinado por sua defesa da Amazônia e dos trabalhadores do campo contra os coronéis, fundou no Acre a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Sempre inquieta e nunca satisfeita em suas lutas, se viu tentada pela política partidária. Foi vereadora, deputada e aos 36 anos foi a senadora mais jovem e mais votada da democracia do Brasil. Quando Lula chegou à Presidência da República, a escolheu para Ministra do Meio Ambiente. Marina se queixava de ser boicotada no governo nos seus projetos a favor da defesa da Amazônia, que durante seu governo conseguiu que fosse destruída 60% a menos do que era antes. Em 2008, abandonou o governo, e na sequência, o PT, e se afiliou ao pequeno Partido Verde (PV) para poder disputar as eleições presidenciais. Com pouquíssimo apoio conseguiu quase 20 milhões de votos, obrigando Dilma Rousseff a disputar o segundo turno. Quatro anos mais tarde, o sonho de Marina era se lançar como candidata de um novo partido fundado por ela, a Rede. Atrasos burocráticos fizeram com que seu partido não fosse oficializado a tempo porque não se chegou ao número necessário de assinaturas para obter o registro. Marina, que compartilha com Lula uma grande astúcia política para se impor aos imprevistos, acabou se afiliando ao PSB de Eduardo Campos. O líder socialista escolheu Marina como candidata à vice-presidência. Ela aceitou, ainda que não seja mulher que goste de ser segunda em nada. O destino – ou a “providência divina”, a que ela atribuiu o fato de ter decidido no último minuto não viajar no avião de Campos, que o levaria à morte na trágica manhã de 13 de agosto – acabou colocando-a como candidata à presidência. De saúde fragilíssima, atacada por várias malárias, três hepatites e uma contaminação grave por mercúrio que restringem ainda mais dramaticamente sua alimentação e suas forças físicas, quando os médicos a davam por incurável colocou-se nas mãos de um pastor evangélico com fama de possuir o dom da cura. Desde então é uma militante discreta da Assembleia de Deus, onde, entretanto, é vista com uma certa desconfiança por considerarem-na, ao contrário do que se costuma dizer dela, como demasiadamente liberal e progressista para os cânones fortemente conservadores da mencionada igreja. Chegou a propor um plebiscito popular para discutir os temas do aborto, as drogas e o casamento homossexual, temas considerados tabus e diabólicos por seus correligionários evangélicos. Seus adversários políticos a acusam de falta de experiência para governar o país e de sentir-se “predestinada”. Dizem que é “uma pessoa dócil com mãos de ferro”, inflexível em suas decisões.Outro ambientalista, Dener Giovanni, chegou a pintar Marina como um personagem que se move entre “o lavar as mãos” e o “silêncio covarde das convicções”. A analista política Dora Kramer afirma, entretanto, que a candidata socialista é uma política intransigente mas incapaz de “golpes baixos” e que tem como lema que na política, como na vida, “nem tudo vale”. Marina, que se casou duas vezes, é mãe de quatro filhos. Difícil poder definir e enquadrar um personagem tão complexo, multifacetado, enigmático e, ao mesmo tempo, de forte magnetismo e rigor ético que a torna simpática para os mais jovens e os antipolítica. Tirou seu lema de vida pública e privada dos evangélicos que a pedem para ser, diz, “sensível como uma pomba e astuta como uma serpente”. Será correto dizer que na política é mais serpente que pomba? Seu trabalho é muito mais reconhecido e admirado fora do Brasil do que em casa. Em 1996, aos 38 anos, recebeu nos Estados Unidos o Prêmio Goldam de Meio Ambiente para a América Latina e Caribe. Em 2007, a ONU lhe concedeu o Champions of the Earth, o maior galardão da instituição no campo ambiental. Nesse mesmo ano, o jornal britânico The Guardian colocou a senadora Marina Silva como uma das 50 pessoas do mundo capazes de ajudar a salvar o Planeta. Nas Olimpíadas de Londres em 2012, foi convidada na inauguração a levar a bandeira dos jogos junto com o Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon e vários prêmios Nobel. Ela costuma lembrar a citação evangélica de que “ninguém é profeta em sua terra”. Seu último grande desafio será agora enfrentar nas urnas em outubro a poderosa candidata e presidenta, Dilma Rousseff, mais agnóstica do que crente, mas que apenas alguns dias atrás leu textos bíblicos diante de 5.000 pastores evangélicos para quem lhes pediu a benção. Já há quem profetize entre ambas uma nova luta bíblica no estilo do pequeno Davi contra o gigante Golias. No Brasil, como em toda a América Latina, ninguém parece escapar, como Miguel Ángel Bastenier bem escreveu neste jornal, ao inelutável destino dos deuses.

Os curdos formam uma frente antijihadista

Milicianos do PPK no norte do Iraque. / A. L. (REUTERS)
Nem a aviação americana, nem as forças de defesa do Curdistão iraquiano. Quem salvou Yassem e sua família, assim como milhares de outros yazidis bloqueados pela ofensiva do grupo extremista Estado Islâmico (EI) na montanha de Sinjar no início deste mês, foi uma milícia curda da Síria, o Partido da União Democrática (PYD). Mais ao sul, a ajuda do Partido dos Trabalhadores de Curdistão (o PKK, que atua na Turquia) foi decisiva para libertar Majmur. Pela primeira vez, combatentes curdos do Iraque, Turquia e Síria uniram suas forças para lutar contra um inimigo comum. “Os peshmergas se foram”, afirma Yassem, em referência às forças da região autônoma iraquiana. Esse homem, cujo irmão morreu tentando defender seu povo dos jihadistas, conta que, como não puderam resistir, eles fugiram para as montanhas de Sinjar, onde ficaram bloqueados durante dias praticamente sem comida nem água. “Foi o PYD que nos abriu o caminho, trouxe alimentos e pôs caminhões para nos retirar de lá”, sublinha. É um relato repetido pela maioria dos deslocados que chegaram à localidade de Zajo, no norte do Iraque, nas últimas duas semanas. Os curdos das Unidades de Defesa Popular (YPG) conseguiram controlar uma zona do nordeste da Síria, fronteiriça com Iraque e Turquia, mantendo os jihadistas afastados. Agora, os homens dessa milícia cruzaram a fronteira com o Iraque e garantiram a segurança de uma estrada montanhosa para permitir a saída das pessoas bloqueadas em Sinjar. Mas, diferentemente da ação humanitária dessa milícia, a intervenção do PKK foi mais problemática. Para começar, a guerrilha do PKK, que há três décadas luta contra o Estado turco, está na lista dos EUA e da União Europeia de organizações terroristas. Não há registro de que os assessores americanos e os guerrilheiros tenham tido algum contato. Ainda assim, sua intervenção não passou despercebida para os norte-americanos. Várias testemunhas afirmam ter visto esses milicianos em Erbil na primeira semana deste mês, quando o avanço do Estado Islâmico surpreendeu o Governo regional curdo iraquiano. Por outro lado, a participação do PKK incomodou, sem dúvida, veteranos peshmergas. A aparente facilidade com que os jihadistas forçaram a retirada dessa força curda iraquiana quebrou o mito de sua invencibilidade. Além disso, o PKK disputa historicamente com o Partido Democrático do Curdistão (PDK, a principal força política na região autônoma) a liderança dos curdos – entre 30 milhões e 35 milhões – espalhados pela Turquia, Iraque, Irã e Síria. “Em Majmur, as forças do PKK tem um acampamento faz tempo e, quando o EI atacou, participaram da defesa e recuperação da zona”, explicou o ministro da Defesa curdo iraquiano, Mustafá Said Qadir, ao ser indagado sobre a ajuda prestada pelo grupo. A existência desse acampamento não era nenhum segredo. Mas, depois da retomada de Majmur, o presidente da região autônoma e líder do PDK, Massud Barzani, fez uma visita ao local. Foi a primeira vez que Barzani se reuniu em público com membros do PKK. A imprensa local, que até então evitava o assunto, divulgou o apoio desses milicianos, assim como de vários grupos do “Curdistão oriental”, em referência à zona curda do Irã. Dez mil refugiados curdos que fugiam da perseguição turca foram instalados pelo Saddam Hussein nos arredores de Majmur em 1998. Qualquer um que reparasse ao passar pelo cemitério podia ver a bandeira do PKK e os cartazes com a imagem de seu líder, Abdullah Ocalan, que foi capturado em 1999 e cumpre prisão perpétua numa ilha do mar de Mármara. Quando os curdos iraquianos recuperaram aquela área em 2003, respeitaram o assentamento, que na ocasião já contava com escola, mesquita e ambulatório. Não está claro quantos dos adultos estavam armados e que grau de liberdade de movimento tinham. “Sua ajuda foi crucial. Os homens do PKK são muito bons contra os jihadistas, porque têm experiência de combate nas montanhas”, admite Mohamed Maruf, um jovem peshmerga que participou da libertação dessa cidade, onde ocorreram alguns dos combates mais violentos até a recuperação da represa de Mossul. Apesar do interesse provocado por sua entrada em cena, os membros do PKK mantêm a reserva em seu refúgio iraquiano. Às portas do acampamento, dois velhos milicianos, vestidos com as típicas bombachas curdas e distintivos com a imagem de Ocalan, negam-se a levantar a barreira. “Aqui não há ninguém com quem possa falar, por isso é melhor ir embora por onde veio”, respondem com brutalidade. Sabem que sua presença na área é um exercício de equilíbrio político. Não só a visão tradicional de Barzani se choca com o marxismo ideológico do PKK, como também seus interesses ficam cada vez mais incompatíveis a cada dia que passa. Para o presidente curdo, a Turquia se converteu em um grande aliado e um dos principais investidores na região autônoma. Já o PKK, embora tenha renunciado à aspiração de um Estado independente no sudeste turco, continua vendo o Governo de Ancara com desconfiança. No ano passado, os dois lados anunciaram um cessar-fogo, mas ainda não ocorreu o desarmamento. Agora, os líderes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão estão fazendo gestões para que os EUA e a UE recompensem sua contribuição para frear o Estado Islâmico retirando o nome do PKK da lista de organizações terroristas, como confirma um diplomático iraquiano. O PKK nunca lançou ataques contra objetivos norte-americanos. Sua inclusão na lista de grupos terroristas foi feita a pedido da Turquia, que integra a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Por enquanto, as autoridades turcas, talvez escaldadas por seu envolvimento inicial na crise síria, preferem guardar silêncio.