domingo, 3 de agosto de 2014

Desde bem antes de 1948, árabes e judeus se enfrentam pelo direito à "terra prometida". Em confronto tão complexo, a arte - HQ, cinema e literatura - pode ajudar a explicar por que essa guerra se perpetua


Guerra árabe-israelense (1948), crise de Suez (1956), guerra dos seis dias (1967), guerra de atrito (1967), Yom Kippur (1973) e duas guerras do Líbano (1982 e 2006). Em comum em todas essas refregas, a disputa entre Israel e países árabes, principalmente Egito, Síria e Iraque. Desde sua fundação, em 1948, o Estado de Israel vive às turras com seus vizinhos. O conflito entre israelenses e palestinos (judeus e árabes) é dos mais complexos da humanidade, remontando aos tempos bíblicos. Jerusalém, terra sagrada para Cristianismo, Islamismo e Judaísmo, é o centro de uma beligerância que recrudesceu com o surgimento dos movimentos sionistas na Europa do final do século XIX e o êxodo de judeus de volta ao Oriente Médio. Ao tratar a guerra árabe-israelense como tema ou pano de fundo, as artes são um dos mecanismos mais didáticos para elucidar os diferentes pontos de vista por trás da luta entre esses povos. Segundo Flávio Sombra, professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e PhD pela Universidade de Birgmingham (Inglaterra), mais do que elucidar o confronto, a arte pode ajudar a alimentar ou a diminuir os efeitos da guerra. “A arte que se vê nos quadros pintados por muitos pintores de Israel e da Faixa de Gaza é (uma forma pacífica de) guerra - mesmo nos desenhos das camisetas que se vedem nos mercados de Jerusalém”, exemplifica Flávio, que é também articulista do O POVO. De acordo com Ricardo Jorge, professor do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador da Oficina de Quadrinhos do curso, a arte também se alimenta dessa crise. “A gente tende a pensar num paradoxo da arte. Em geral, quando um país está em crise política é quando seus artistas vivem seu ápice artístico”, aponta. Para Sombra, a disputa religiosa e política entre palestinos e judeus e o fracasso da Organização das Nações Unidas (ONU) em criar um Estado Palestino são as principais raízes do confronto que se alastra há séculos e se renova no noticiário. “O enredo é grande e (há) muitas águas sujas dos dois lados”, lamenta o professor da UnB. Uma mudança de paradigma recente foi o estreitamento do apoio ocidental à Palestina, expressa em movimentos artísticos e políticos. Ricardo Jorge considera que isso é um reflexo da globalização. “Vejo essa multicultura como uma tendência, uma busca por recepção múltipla, temáticas múltiplas”, explica o professor, referindo-se às vozes na imprensa internacional que se colocaram contra os bombardeios de Israel desde o fim de julho último. Sombra vê nesse abraço simbólico da classe artística um reflexo da simpatia mundial aos palestinos. “Mesmo praticando atos terroristas ou provocando guerras em várias ocasiões, eles ganharam a comunicação e a opinião pública”, ressalta. “Deve vir do sentimento de serem menos armados, enquanto os judeus de Israel possuem dinheiro, poder, armas e tecnologia apoiados pelos Estados Unidos”. Para ajudar a compreender essa tensão entre palestinos e israelenses, O POVO listou obras de arte. Em HQs, filmes e livros, a guerra mostra-se sob muitos ângulos. A GUERRA DAS ARTES Como o conflito remonta aos tempos bíblicos, obras que ajudam a entender o êxodo do povo hebreu são essenciais. O clássico Os Dez Mandamentos (1956), de Cecil B. De Mille, e o infantil O príncipe do Egito (1998), por exemplo, se preocupam com a figura bíblica de Moisés para mostrar a peregrinação dos judeus em busca de sua Terra Prometida. O maniqueismo bíblico, porém, acaba por vilanizar os árabes. O império cinematográfico de Hollywood é historicamente dominado por investidores judeus, o que pode influenciar a parcialidade. Se o cinema clássico mostra muito de Israel, país historicamente ligado aos EUA e ao mundo (judaico-cristão) ocidental, os quadrinhos e obras contemporâneas ambientam mais os orientais. Para Ricardo Jorge, a graphic novel autobiográfica Persépolis, da iraniana Marjane Sartrapi, é essencial para entender hábitos e maneira de pensar de parte dos árabes. Já Valsa com Bashir, HQ e filme do israelense Ari Folman, é uma ponte entre os dois povos ao mostrar soldados sobreviventes da Guerra do Líbano (1982) em busca de suas memórias. Recentemente, o UCI Kinoplex Iguatemi trouxe a Fortaleza a obra inédita franco-canadense Inch’Allah, de Anaïs Barbeau-Lavalette. O filme mostra o trabalho de uma médica da Cruz Vermelha dentro das linhas de guerra palestinas. Segundo Pedro Martins Freire, programador do cinema de arte do UCI, o filme trata de temas atuais, como o grupo islâmico Hamas. O lado pessoal também é foco de Bubble (2006), de Eytan Fox. No filme, um rapaz israelense e um palestino se apaixonam, mas as diferenças culturais e ideológicas surgem como barreira. (André Bloc) CINEMA Munique (2005), de Steven Spielberg Após o atentado que vitimou atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique (1972), um grupo decide se vingar dos responsáveis pelo ato. Baseado em história real. Paradise now (2005), de Hany Abu-Assad Dois amigos de infância são recrutados para virar homens-bomba em Tel-Aviv. Promessas de um Novo Mundo (2001) Um grupo de crianças israelenses e palestinas é acompanhado por três anos enquanto conhecem um pouco mais sobre o outro lado do muro. ARTE URBANA Banksy – O misterioso artista de rua britânico mostrou o desejo de aproximação entre os povos em uma série de grafites no muro que separa Israel e Palestina. LIVRO Jerusalém, de Simon Sebag Montefiore O livro é uma biografia da cidade. Nele, o historiador explica por que tantos povos disputam o privilégio de possuir a cidade-símbolo da religiosidade monoteísta. QUADRINHOS Palestina: uma nação ocupada; Palestina: na Faixa de Gaza, de Joe Sacco – as reportagens em quadrinhos contam a trajetória de Sacco desde Jerusalém até a Faixa de Gaza, desvendando muito da cultura dos dois povos. Crônicas de Jerusalém, de Guy Delisle Alvo principal da disputa entre árabes e judeus, Jerusalém é percorrida e observada pelo autor canadense e sua família. Valsa com Bashir, de Ari Folman Um ex-soldado israelense busca significado entre suas lembranças da Guerra do Líbano (1982).
Fonte: O Povo On Line.

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