sábado, 19 de julho de 2014

Ucrânia diz ter provas do envolvimento da Rússia no ataque

Observadores da OSCE, nesta sexta perto dos destroços. / AFP
Ucrânia tem “provas convincentes” de que a Rússia desempenhou um papel determinante na derrubada do Boeing 777 da Malaysia, que foi abatido na quinta-feira no leste ucraniano, causando a morte de 298 pessoas, segundo assegurou o chefe da contra-inteligência do país, Vitaly Nayda. Ele afirmou que Moscou forneceu aos rebeldes sistemas de mísseis e técnicos para operá-los. “Temos provas convincentes de que esse ato terrorista foi cometido com a ajuda da Federação Russa. Sabemos que eram cidadãos russos”, afirmou durante uma coletiva de imprensa, na qual mostrou fotos do que seriam três sistemas de mísseis Buk rumo à fronteira russa. As declarações de Nayda foram dadas depois de que o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, declarasse que Putin “tem uma última oportunidade para demonstrar o que significa a palavra ‘ajuda’ para ele”, afirmou, minutos após o que ele descreveu como “uma intensa conversa” telefônica com o líder russo. Rutte agregou que a chanceler alemã, Angela Merkel, David Cameron, do Reino Unido, e Tony Abbott, da Austrália, compartilham essa visão. “Estou impactado pelas fotografias da tragédia, que mostram um comportamento altamente desprezível no lugar dos fatos”, disse, referindo-se às acusações lançadas pelo Governo de Kiev de que os separatistas estão destruindo provas e que teriam retirado até 38 corpos do lugar onde caiu o Boeing 777 da Malaysia Airlines. No entanto, a agência russa Ria informou, na manhã deste sábado, que um representante da missão da OSCE, que se encontra na área do desastre, declarou que não há fundamentos para falar de falsificações por parte dos rebeldes e afirmou que todos os objetos dos passageiros do avião malásio estão a salvo.
O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, se reuniu este sábado com o ministro de Relações Exteriores holandês, Frans Timmermans, que se deslocou à zona para ajudar na repatriação dos cadáveres de seus compatriotas. Poroshenko assegurou que vão a empreender ações judiciais para os rebeldes pró-russos de Donetsk e Lugansk sejam qualificados como “terroristas”. Enviar vídeo Enquanto isso, crescem as vozes que pedem uma investigação internacional. Além do Governo de Londres, cujos especialistas chegam a Kiev no domingo e cujo ministro de Relações Exteriores, Philip Hammond, advertiu que os olhos do mundo estão postos na Rússia, a Austrália – o segundo país com mais mortos na tragédia – já organizou seu próprio grupo de investigação, segundo anunciou a ministra de Exteriores, Julie Bishop. De acordo com o que informa Laura M. Lombraña de Sidney, os australianos trabalham para que o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprove uma resolução que autorize uma investigação independente sobre o terreno. Ao longo do dia, aumentou a pressão sobre as autoridades australianas para que vetem a presença do presidente russo, Vladimir Putin, na reunião de líderes do G20 de novembro próximo. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente russo, Vladimir Putin, fizeram um acordo sobre a necessidade de se criar uma comissão de investigação internacional e independente sobre a tragédia do Boeing da Malaysia Airlines derrubado nesta quinta-feira na Ucrânia, segundo a agência Reuters, que informa que ambos os líderes conversaram por telefone neste sábado sobre o assunto. A France Press indica que tal investigação ficaria sob a supervisão da Organização de Aviação Civil Internacional (ICAO, nas siglas em inglês), citando um comunicado do governo alemão. “Ambos os líderes entraram em acordo para que a criação de uma comissão internacional, independente e sob a direção da ICAO, possa ter um rápido acesso ao lugar do acidente para esclarecer as circunstâncias da derrubada e resgatar os corpos das vítimas”, destaca o comunicado do Governo alemão. Ao mesmo tempo, o Governo da Ucrânia acusou neste sábado os rebeldes pró-russos da destruição de provas e da retirada de corpos do lugar onde caiu o avião da Malaysia Airlines, supostamente derrubado por um míssil que causou a morte de seus 298 passageiros, na última quinta-feira. Kiev também aponta a Rússia como colaboradora ao esconder material que poderia ajudar na investigação. “Os terroristas, com ajuda da Rússia, estão tentando destruir provas”, declara um comunicado oficial do Executivo ucraniano. Kiev também denuncia que 38 corpos foram levados a um necrotério da região separatista de Donetsk por pessoas com “forte sotaque russo”, que argumentavam que iam realizar suas próprias autópsias nos cadáveres. “Militantes armados afastaram as equipes de resgate e as deixaram sem comunicação. Carregaram os corpos em um caminhão como sacos. Segundo os militantes, iam levá-los à cidade de Donetsk”, afirmou uma fonte do Governo da região onde aconteceu o acidente, citada por meios de comunicação ucranianos. Em meio a essas acusações e pelo segundo dia, na manhã do sábado, um grupo de especialistas da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) chegou ao local da tragédia, em um campo aberto junto à localidade de Grabovo, na região de Donetsk, segundo informações da Efe. Depois de uma discussão com militantes pró-russos armados que vigiam o local da tragédia, os especialistas internacionais foram obrigados a deixar os carros que os levaram e andar a pé no campo onde permanecem espalhados os restos do avião e os corpos das vítimas do acidente, segundo o chefe de serviços de segurança da Ucrânia, embora não se saiba se poderão trabalhar com normalidade. “Se vocês não me deixarem fazer meu trabalho, farei uma queixa a (Alexandr) Borodai (líder dos rebeldes pró-russos)’, disse a um comandante da milícias Alex Hug, chefe da missão internacional da OSCE para a Ucrânia, acompanhada no lugar da tragédia por um grupo de jornalistas, entre eles da Efe. Até agora, o Conselho de Segurança do Governo da Ucrânia informou que recuperou 186 corpos no local da queda do voo MH17 da Malaysia Arlines, depois de percorrer 18 dos 25 quilômetros quadrados que abrangem a área da tragédia. Também há confusão sobre o paradeiro das caixas-pretas. Esta é a segunda tentativa de acesso à região por parte dos investigadores internacionais, depois que na tarde da sexta-feira cerca de 20 observadores da OSCE dirigiram-se ao local, mas viram suas ações limitadas por militantes pró-russos, segundo denunciou a própria OSCE. Vários países e o Conselho de Segurança da ONU exigem que seja facilitado o acesso total da área e que seja implementada uma investigação independente para esclarecer os fatos. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou na sexta-feira que a aeronave foi derrubada por um míssil lançado a partir da área controlada pelos rebeldes do leste da Ucrânia. Embora não tenha acusado diretamente a Rússia, ele disse que os rebeldes não poderiam ter atuado dessa forma sem o apoio de Moscou.

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