segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Reféns da telefonia e internet de má qualidade


Reportagem: Raul Beiriz e Luciano Demetrius
Os precários serviços de telefonias fixa e móvel e de internet causam significativos prejuízos à economia e dores de cabeça aos usuários. A situação beira o caos. Diversas operações, negócios e vendas deixam de ser realizadas por causa da inoperância do serviço prestado pelas empresas Oi, Tim, Vivo e Claro e também das distribuidoras de sinal de internet. Exemplos não faltam.
Na agricultura, muitos produtores usam o velho rádio para se comunicarem com os escritórios. Outros se arriscam a comprar transmissores de sinais para ver se conseguem ter comunicação. Lojas deixam de vender porque os cartões de crédito e débito não passam. Em busca de sinal no País da telefonia mais cara do mundo, comerciante, hoteleiro e taxista têm vários telefones móveis, de diferentes operadoras.
O prejuízo não está apenas na ineficiência do serviço, mas também na falta de compensação. O Jornal do São Francisco foi às ruas ouvir os barreirenses sobre os problemas que enfrentam com os serviços pagos de telefonia e de internet prestados sem qualidade.
Perda de clientes
A lentidão da internet afasta os clientes do Center Apart Hotel. A assistente administrativo Rosângela Eva e Silva cita o caso de um hóspede que, logo após efetuar o check-in, desistiu dos serviços do hotel por causa da vagarosa conexão. “Ele fez cinco tentativas de acesso à internet, que ora caía, ora ficava lenta. Diante disso, cancelou a reserva. Ficamos em situação constrangedora, apesar de dizermos que a internet é ruim em toda a cidade”, disse.
Apesar de usar os serviços de duas provedoras (Velox e Gol, esta última via rádio), tal medida preventiva não evita transtornos como a emissão da nota fiscal eletrônica. “Com a internet precária em Barreiras, nem deveria ter sido adotado o sistema de emissão desta forma”, reclama.
Recentemente, em outro caso, uma loja que vende ar condicionado disse que poderia emitir nota fiscal somente dias após a retirada da mercadoria. O gerente geral da sede da empresa, em Salvador, informou que a grande dificuldade da companhia está na internet. “Temos este problema de acesso ao site da Secretaria Estadual da Fazenda para emissão da nota fiscal eletrônica. Por isso, emitimos a nota por aqui e a enviamos para o e-mail do cliente”, disse o gerente do grupo Dalmo Camargo.
A Secretaria Estadual da Fazenda diz que o problema para a emissão de notas fiscais não está no site, mas sim na Internet. É o que garante o gerente do callcenter da Sefaz, Wilson Lopes. “Se houver dificuldade para a emissão das notas fiscais é problema da conexão”, disse, informando que qualquer problema pode ser resolvido, ironicamente, pelo telefone ou pela internet, se a rede permitir. “Ainda temos um representante em Barreiras”, informou.
Sem sinal e clientes
Para a consultora de beleza, Camille Fabiane Fioretti Ribeiro, o “sumiço” do sinal do celular é entrave para fechar negócios e conquistar fregueses. “Cheguei a perder clientes porque elas não conseguiam manter contato comigo. O celular serviria para facilitar meu trabalho, mas as constantes quedas de rede me obrigam a ir até elas. Tenho gastos acima da média com combustível”, evidencia.
De acordo com Socorro Alencar, gerente de uma loja de confecções masculinas, a internet instável compromete o acesso ao sistema para conferir o banco de dados de convênios. “Há pouco deixei de vender porque o cliente não podia perder tempo. O sinal não liberava o desconto da compra”, disse.
O tempo, aliás, é o maior entrave do comércio nas questões telefônicas. Por horas e até dias, a economia de Barreiras e de Luís Eduardo Magalhães só funcionou à base de dinheiro ou do famoso “fiado”. Nenhuma máquina de cartão, no início de novembro, aceitava cartões de débito ou de crédito, gerando problemas para os comerciantes, especialmente para os restaurantes.
Hora Marcada
Os problemas com telefone e internet parecem ter hora marcada. Há quem tenha percebido que as dificuldades, especialmente com os computadores, começam por volta das 14 horas, com picos de queda entre às 16 e 17 horas. A assistente administrativo de escritório de advocacia, Deni Nascimento, reclama da inconstância da internet nos dias úteis. “Serviços de urgência já tiveram que ser enviados um dia depois. É preciso recorrer à linha fixa ou ao celular para repor o tempo perdido com a internet”, afirmou. Demi não esconde que prefere a Vivo, mas reclama que “a concorrência, restrita a quatro empresas, faz com que elas abusem do consumidor”.
O simples envio de um relatório virou transtorno para a bancária Cristiane Ana de Jesus. “O que eu poderia fazer diretamente de minha casa, acabou me forçando a ir até o meu local de trabalho”, conta. Ela também reclama da telefonia celular. “Já fiquei uma semana sem sinal da Claro e quando procurava apoio da empresa, recebia a resposta de que o problema estava na rede”.
Ao passar pela Rua Coronel Magno, no centro de Barreiras, três lojas de empresas de telefonia – Claro, Vivo e Tim – disputam a clientela oferecendo vantagens na compra associada de dois problemas: internet e telefone. São gigabytes de preocupação e de aborrecimento com aparelhos de tecnologia avançada e com vários aplicativos, mas que não podem ser usados por um motivo bem simples: a rede não suporta.
Vários telefones para ter um
Para profissionais de diferentes segmentos, é vantajoso ter linhas telefônicas das mais variadas operadoras. “A linha telefônica só funciona na sorte por aqui”, diz Lismar de Souza Ramos, proprietário do restaurante Point do Macarrão, localizado no centro da cidade. O empresário utiliza números de celular de três operadoras (Tim, Claro e Vivo) e diz que o maior problema dele é com a Tim. “Por muitas vezes tive que sair do restaurante e ir até a esquina para conseguir sinal”, conta.
Em frente a este restaurante tem um hotel. Do outro lado da rua. O cliente, hospedado no hotel, bem que tentou fazer o pedido pelo telefone, mas não conseguiu. Preferiu, pela janela, acenar para o comerciante e fazer sua solicitação. Outro problema enfrentado por Lismar é com a máquina de cartões de débito e de crédito. “Tenho trabalho para passar os cartões. Tem casos em que o cliente opta por pagar em dinheiro, mas nem sempre ele está prevenido”, explica. O pior período, segundo ele, é entre às 17h e às 19h. “Justamente quando o restaurante começa a receber boa parte dos clientes”, completa.
A gerente de rede de farmácias Pague Menos, Cleonice Bessa, conta com os serviços de duas operadoras (Oi e Hughes, esta via satélite) para não ser “pega” de surpresa. “Mesmo assim, as quedas acontecem”, afirma. Os serviços de pagamento com cartões de débito e de crédito e de descontos de laboratórios e de acúmulo de pontos são os mais afetados quando o sinal desaparece. “Muitos clientes não compreendem, pensam que o problema é da empresa. Alguns chegam a ser agressivos com os funcionários e perdemos a venda”, conta. A emissão de nota fiscal, para evitar transtornos, é feita somente no horário comercial. Mas o contato com a central, em Palmas (TO), é dificultado pelo pífio sistema. “É impossível manter contato com a sede”, assegura.
Caos
“Estamos à beira do colapso em relação à telefonia e à internet em Barreiras”, afirma o diretor executivo da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Thiago Albuquerque Pimenta. “A lerdeza na conexão atrapalha o trabalho dos produtores que têm na internet, uma ferramenta indispensável para o acompanhamento de safra e mapeamento da região. Muitas vezes não conseguimos baixar o sistema de monitoramento. É preciso desligar e retornar para tentar melhor conexão”, disse.
Segundo ele, até dois anos atrás, o acesso à internet era “razoável”. Usuário da Vivo 3G, considerada pelo diretor como “uma porcaria”, Albuquerque diz que, ao contrário do que algumas pessoas pensam, a falha não está nos aparelhos. O que compromete o acesso é o sistema, que é falho. “Não temos conexão com o resto do mundo”, lamenta.
Durante a Bahia Farm Show, lembra, foram alugadas quatro repetidoras (uma para cada empresa de telefonia) a fim de amenizar o problema. “Mesmo assim não foi uma conexão perfeita”. Outro caso lembrado pelo diretor foi uma tentativa de envio de um documento via e-mail para uma secretaria, em Salvador. Iniciou às 11h, mas até às 17h30, o envio não havia sido finalizado. “Se tivesse enviado por encomenda, por avião ou até mesmo por ônibus, o material já estaria lá”, frisa. Além da péssima qualidade do serviço prestado, o diretor diz que há precariedade também no atendimento do suporte técnico.


Contatos
Também os meios de comunicação – jornais, emissoras de rádio e de televisão – não estão imunes aos problemas com internet e com telefonia. A reportagem do Jornal do São Francisco tentou entrar em contato com as operadoras Vivo, Oi, Claro, Tim e até a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Não obteve êxito até o fechamento desta edição. Por ironia, a reportagem esbarrou nos problemas citados na matéria, com alguns agravantes.
Os sites das operadoras de telefonia móvel e fixa não oferecem facilmente os contatos das assessorias de imprensa. Para a operadora Claro foram necessárias quatro ligações para diferentes celulares que sempre caíram em secretária eletrônica. O Jornal do São Francisco mantém aberto o espaço às operadoras citadas para explicarem as razões que levam a telefonia e a internet a terem baixa qualidade na região. Em tempo: podem mandar a resposta por carta ou por mensageiro. É que o telefone ou a internet podem falhar.
FONTE: JORNAL SÃO FRANCISCO



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